terça-feira, 19 de maio de 2015

Maria Antonieta, a última rainha da França

(Caricatura de Maria Antonieta por Isabela Serpa Ramos - 8ºano II/2015)

Nascida em 2 de novembro de 1755, a princesa austríaca Maria Antônia Josefa Johanna von Habsburg-Lothringen ficou conhecida mundialmente como Maria Antonieta, a última rainha da França. Sua pele branca, sua boca carnuda, seus cabelos louros e seus olhos azuis se tornavam ainda mais encantadores durante seu caminhar delicado e seus passos de dança elegantes.

Segundo relatos até mesmo Mozart teria se apaixonado por Maria Antonieta e lhe dito que casaria com ela quando fossem adultos. Na época o compositor estava com apenas sete anos de idade e teria se impressionado com a bondade da menina que o ajudou a levantar após uma queda no palácio de Viena contemplando-o com um beijo na bochecha como despedida.

Educada como a filha caçula entre 15 irmãos, a pequena desfrutava de uma vida alegre e religiosa em seu país sem imaginar o quanto seu cotidiano seria alterado em abril de 1770 quando sua mãe resolveu casá-la com Luis XVI, o príncipe herdeiro do trono francês.  A cerimônia foi realizada por procuração numa igreja de Viena e serviria como um importante arranjo político que traria maior tranquilidade aos austríacos.

A jovem de apenas 14 anos de idade não imaginava que estava sendo condenada a uma vida monótona e repleta de rituais cansativos. Por exigência de sua nova pátria, ao chegar à fronteira com a França, Maria Antonieta foi obrigada a deixar para trás tudo o que tivesse alguma relação com a Áustria. Não apenas seu enxoval e suas damas de companhia, mas até as roupas que usava. Maria Antonieta despiu-se e recebeu um vestido dourado para continuar a viagem.

Ao chegar à sua nova residência, o grandioso Palácio de Versalhes, Maria Antonieta ficou encantada com a beleza do lugar. Porém, logo percebeu que em seus 700 quartos dormiam mais de 3.000 nobres desconhecidos que fariam parte de seu dia-a-dia e, a maioria deles, não disfarçava a repulsa por sua origem austríaca. Segundo relatos, seu sogro Luis XV era quem mais agradava e convivia com Maria porque rapidamente se encantou por sua alegria e beleza.

As complicadas regras de etiqueta francesas rapidamente começaram a irritá-la. Sua privacidade era praticamente inexistente, até para lavar as mãos após o almoço era necessário ser observada pelos membros da corte. Entre todos os costumes franceses, o que mais irritava Maria Antonieta era o fato dos nobres terem amantes “oficiais”, como seu sogro, Luís XV, que, viúvo, levava às festas da realeza a ex-prostituta Madame du Barry.

Os apertados espartilhos franceses a incomodavam, sobre tudo porque gostava de sentar no chão para brincar com os filhos dos criados. Essa simplicidade incomodava a corte francesa que elegeu a madame de Noailles como cuidadora da jovem princesa para vigiá-la e mantê-la dentro das regras de etiqueta. Não demorou muito para que Maria Antonieta começasse a reclamar de sua rotina sem graça.

Em 10 de maio de 1774 o rei Luis XV faleceu, assim Luis XVI assumiu o trono transformando Maria Antonieta em rainha. Seu novo título lhe concedeu uma relativa liberdade que desfrutou dispensando boa parte das antigas damas de companhia, povoando a corte de gente jovem e fugindo para Paris durante as noites para frequentar bailes de máscaras, peças de teatro, óperas e apresentações de dança.

Como ela gostava de jogar cartas, Luís XVI instalou um cassino particular em Versalhes, na estreia da nova atração a rainha jogou durante 36 horas seguidas e perdeu uma boa quantia de dinheiro dos cofres da coroa, mas nada comparável ao que ela gastava para aumentar sua coleção de diamantes ou comprar aproximadamente 170 vestidos por ano.

Tempos depois seu marido a presenteou com o charmoso palácio do Petit Trianon que se tornou o verdadeiro paraíso para Maria Antonieta. Ela mandou instalar um inovador sistema de espelhos automáticos que cobriam as janelas, ordenou as construções de um terraço, um templo, um teatro e uma pequena fazenda.

No Trianon Maria recebia seu cabeleireiro e sua modista três vezes por semana, oferecia festas a fantasia aonde brincava de criada e abrigava seus melhores amigos. O povo francês não apreciava a intensa convivência da rainha com sua melhor amiga, Polaigne, e com um conde sueco chamado Axel Fersen. Assim surgiram boatos de que ela mantinha casos amorosos com eles.

Maria Antonieta usava a moda como uma forma de aumentar e sustentar sua autoridade em momentos de críticas sérias como essas. Por meio de novas roupas, sapatos e penteados, a rainha se impôs, colocando-se acima de qualquer mulher francesa. Por gastar tanto com seu visual, em pouco tempo, foi apelidada de Madame Déficit e se tornou alvo de caricaturas vendidas nas ruas.

Seu exibicionismo foi uma atitude inédita para uma rainha. Antes dela, as soberanas francesas tinham de apresentar uma imagem dócil e viver discretamente. Quem tentava se envolver em política e exibir seu poder por meio de roupas luxuosas eram as amantes dos reis. Mas a futilidade da rainha não era o que mais preocupava seus súditos, o que realmente os preocupava era o fato dela não engravidar.

Um herdeiro para o trono francês era fundamental para agradar a população, tanto que o irmão da monarca, Joseph, foi até Versalhes para visitá-la e saber o porquê da demora em gerar filhos, o que aconteceu somente sete anos após o casamento. Quando teve os últimos dois filhos, um menino e uma menina, ela se recusou a dar à luz em público, quebrando a tradição da corte francesa.

Maria Antonieta parecia viciada em provocar sua própria impopularidade. Ela substituiu o tradicional espartilho francês por cestos de palha cobertos por anáguas, chocou a corte e os plebeus ao cavalgar pelos campos, organizar corridas de cavalo e se divertir em passeios de carruagem a toda velocidade. Além de praticar todas essas atividades tipicamente masculinas, ela ainda começou a usar calças durante os esportes.

Os gastos de Maria com seus pequenos caprichos não tinham limites, somente o seu enxoval custou entre 18.000.000 e 26.000.000 de reais. Para guardar suas roupas eram necessários 3 quartos em Versalhes. E, enquanto a rainha gastava tanto, o povo vivia a maior crise financeira da história francesa.

Maria Antonieta sabia muito pouco sobre os problemas que começavam a se tornar insuportáveis para a população humilde. O inverno rigoroso destruiu as plantações e as pessoas começaram a se atacar nas ruas por um único pão. Esse produto, que era a base da alimentação francesa, chegou a custar o preço de um salário comum na época.

Muitas pessoas acusaram Maria Antonieta de ser negligente com seus súditos, mas a verdade é que Luis XVI não a deixava meter a colher na política e preferia mantê-la de fora dos problemas sociais que surgiam. Tanto que em 1784, durante a grande Revolução Francesa, o rei ofereceu mais dois palácios de presente a sua esposa, nem ele mesmo tinha ideia do que ocorreria com eles em breve.

O povo estava determinado a retirar Luis XVI do poder da França por sua falta de habilidade política e os altos impostos que cobrava somente da classe mais baixa do país. Maria Antonieta era o maior símbolo dos privilégios da nobreza, por isso foi atacada pelas peixeiras que invadiram o palácio de Versalhes determinadas a matá-la, mas optaram por levá-la como prisioneira até Paris.

Uma das melhores amigas da rainha não teve a mesma sorte, a princesa de Lamballe. Ela foi linchada pela multidão enfurecida e sua cabeça foi enfiada na ponta de um pedaço de pau e levada até a janela da cela de Maria, que entrou em pânico e desmaiou. Maria Antonieta até manobrou nos bastidores da revolução para que seus parentes austríacos atacassem a França e salvassem a vida de sua família, mas isso não foi possível.


Seu único filho homem foi arrancado de seus braços e doado a uma família que o matou com maus tratos. Em 16 de outubro de 1793, com 37 anos de idade, Maria Antonieta foi condenada a morte na guilhotina. Relatos afirmam que ela não chorou nem se espantou com sua pena. Pelo contrário, encarou o caminho até seu carrasco em silêncio após se defender inutilmente de maneira forte e inteligente no tribunal.

Ao fim desse texto é impossível não nos questionarmos: será que Maria Antonieta foi apenas uma rainha esnobe como costumamos ver nos filmes? Ou será que ela foi simplesmente uma monarca jovem e assustada que recorreu a compras excessivas para se adaptar a uma vida triste e um país tão contrário a ela? Reflita um pouco e construa sua opinião sobre essa personalidade tão famosa mundialmente, até mais.