quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Santos Dumont, pai da aeronáutica?


Qualquer cidadão brasileiro é convicto em afirmar que Santos Dumont foi o inventor do avião, certo? Alguns já ouviram boatos de que este fato não é verídico, no entanto as pessoas não levam essa história á sério, consideram apenas uma especulação de estrangeiros que insistem em menosprezar inventores do terceiro mundo.

A questão é que os irmãos americanos Orville e Wilbur Wright obtiveram patente de registro de uma máquina de voar em maio de 1906, essa patente que apresenta esboços do mecanismo e aerodinâmica do aeromodelo foi requisitada ainda em 1903 e existe até hoje. Ou seja, os irmãos tinham a patente do primeiro avião do mundo seis meses antes de Dumont dar os famosos pulinhos com seu 14-Bis.

O modelo americano voava muito mais do que o desengonçado projeto do brasileiro, mas necessitava de uma força externa para alçar voo e não teve seus testes observados e reconhecidos pela sociedade, uma vez que os Wright optaram pelo sigilo durante a criação até poderem lançar seu projetil à venda, o objetivo não era a fama e quando foram questionados conseguiram ganhar o céu sem o apoio da catapulta de decolagem.

Dumont nunca conheceu seus adversários nem sua criação, mas deixou Paris enraivecido por ter pedido o mérito para os americanos. Tanto que usou dos argumentos da falta de registro oficial dos testes e da necessidade de uma força de impulso para desmerecer a criação de Orville e Wilbur e tentar manter seu prestigio enquanto criador dessa máquina revolucionária.

Posar de vítima parece ser uma das grandes facetas de nosso herói brasileiro. Por três vezes os balões que usaria em competições foram suspeitamente sabotados, isso em países distintos, o que indica que o suposto inimigo do inventor devia ter bastante tempo livre para persegui-lo mundo a fora não é mesmo?! E o tal relógio de pulso que ele jura ter inventado já era usado pela rainha Elizabeth I no século XVI, outro fato bastante curioso, não concorda?

Desacreditado e deprimido, Santos Dumont se suicidou num hotel do Guarujá, São Paulo, em 1932. Suas contribuições sociais são indiscutíveis, afinal fez descobertas importantíssimas quanto aos aparelhos flutuantes, mas daí até lhe atribuir o título de pai da aeronáutica há muita história criada por nacionalistas exacerbados em busca de heróis nacionais, isso é um fato. Mais informações no livro: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil de Leandro Narloch ou clique na imagem que segue para ampliá-la:



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Antônio Francisco Lisboa, Aleijadinho?

(Profetas em Congonhas-MG)
Os doze profetas do Santuário de Bom Jesus de Matosinhos compõem as obras mais conhecidas da incógnita: Aleijadinho. O autor das esculturas não assinou seu nome, como era de costume na época de sua confecção. Os artesões trabalhavam em grupos para seus contratantes contando com a ajuda de seus escravos e muitas vezes o mestre assinava obras de seus alunos, mas o padrão geral era a falta de identificação nas peças.

A corrido ao ouro mineiro proporcionou a construções de belas igrejas acompanhadas de adornos riquíssimos. Era o século do romantismo, os artistas seguiam um padrão estético, assim  os narizes desproporcionais, as maças do rosto salientes, os olhos amendoados, os cabelos cacheados e os polegares na mesma direção dos outros dedos encontrados nas obras de Antônio Francisco Lisboa causaram estranhamento e desdém.

O passar dos anos trouxe uma inovação, hoje para o reconhecimento artístico não basta seguir padrões, é preciso ousar. Durante essa revisão artística, Aleijadinho passa de um mal escultor para ícone nacional. O que antes era visto como bizarrice em suas obras passou a ser exaltado como diferencial e hoje é analisado por diversos interessados no assunto.

Após 1920 os representantes do Modernismo brasileiro foram buscar em Aleijadinho um exemplo de talento popular. Mário de Andrade afirmou que as imperfeições nos trabalhos eram intencionais e expressavam a revolta do autor perante sua condição física. Gilberto Freyre, por sua vez, explicou as peculiaridades como fruto da revolta do artista por ser mulato.

A real doença que teria acometido Antônio é desconhecida, suspeita-se de lepra,  sífiles, hanseníase, acidente vascular cerebral,  escorbuto, bouba, além de outras quatorze moléstias. O fato é que não existem obras assinadas com o codinome Aleijadinho, somente recibos destinados a Antônio Francisco Lisboa que recebeu esse apelido e fama. Aleijadinho pode simplesmente nunca ter existido, não passando de crença popular, isso há de se reconhecer.

Cada colecionador usa de um argumento para defender a autenticidade do artista e suas produções. O próprio imperador Dom Pedro II distribuiu honrarias a escritores que se dispuseram a publicar biografias sobre o suposta artista nacional. A dúvida persiste e assombra nossa história já repleta de heróis forjados. Mais detalhes no sexto capítulo do Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil do jornalista Leandro Narloch.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Solano López, herói ou vilão?

(Caricatura de Angelo Agostini na Revista Fluminense, 12/06/1869)

No quinto capitulo de sua obra: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, o jornalista Leandro Narloch trás, como de costume, revelações chocantes sobre a história brasileira. Nesse caso, especificamente, o escritor faz uma breve revisão sobre a real importância da atuação brasileira na Guerra do Paraguai, também conhecida por Guerra da Tríplice Aliança.

Por volta de 1960 os historiadores já começavam a discutir a possibilidade de terem culpado exageradamente nosso país pelas atrocidades da guerra paraguaiana, assim como também apontavam a participação britânica como insignificante, não mais como primordial no incentivo e apoio militar que acabaram prolongando as batalhas durante seis anos.

Em 1990 novos estudos fornecem dados reveladores. Estatísticas apontam que era impossível contabilizar exatamente o número de habitantes paraguaios antes da batalha por se tratar de um país agrário governado ditatorialmente, logo o Brasil não pode ser culpado por exterminar 80% da população masculina nas frentes de batalha uma vez que o número de homens que moravam no país e o dos que ingressaram na luta eram desconhecidos.

A Inglaterra, durante décadas, foi acusada de patrocinar esse genocídio paraguaio por temer o crescimento do país que poderia atrapalhar seu comércio, o que não faz sentido. O Paraguai era agrário, jamais atrapalharia a exportação dos produtos industrializados ingleses. Além do mais, documentos provam que o financiamento das tropas brasileiras veio dos cofres nacionais, somente 8% do valor foi adquirido via empréstimo dos cofres britânicos.

Resumindo os fatos: a culpa do desastre ocorrido durante os anos de disputa territorial foi retirada do Brasil e Inglaterra e transmitida para Solano López, presidente paraguaio durante o conflito. López até então era visto como o salvador de seu país, um homem determinado a defender sua pátria, mas após essa análise cuidadosa dos fatos tudo levou a crer que foi sua ambição e vaidade desmedidas que não lhe permitiram desistir frente três nações poderosas: Brasil, Argentina e Uruguai.

Em termos a culpa pelo genocídio masculino que afetou a população paraguaia compete em boa parte ao dirigente nacional. Este genocídio por sua vez provocou o enfraquecimento agrário, a queda nas exportações, o empobrecimento do país, a fome nacional e a presença de mulheres, idosos e crianças nas frentes de batalha que, por sua vez, geraram ainda mais desolações como massacres e estupros, no entanto é ingênuo apontar os militares brasileiros como desumanos, as tragédias foram poucas e os registros apontam um numero considerável de ações humanitárias e uniões estáveis resultantes dos encontros em campo de batalha.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Complexo do Zé Carioca

(Zé Carioca de Wall Disney)
Atualmente qualquer cidadão brasileiro reconhece o samba como um ritmo relacionado ao carnaval, mas nem sempre foi assim. O samba em sua origem não se tratava de um estilo musical, mas sim de uma festa organizada por amigos na casa da baiana Hilária Batista da Silva, a tia Ciata. Essas reuniões que começaram por volta de 1910 no quintal carioca eram embaladas por melodias maxixadas de instrumentos de sopro que em pouco, ou quase nada, se assemelhavam as percussões das escolas de samba atuais.

Por volta de 1930 um sentimento nacionalista toma conta do país. Os primeiros sambas, aqueles compostos no quintal de Ciata por Donga e Pichinguinha, começaram a ser ferozmente criticados por se assemelhar ao jazz e ao maxixe, foram acusados de estrangeirismo e desmoralizados. Novos sambas invadiram as ruas, surgiam as tradicionais marchinhas aonde a pobreza do povo era exaltada. Nosso país buscava uma identidade própria, uma história digna, e nesse momento o que tínhamos de mais exótico e particular começa a ser cultuado. Mas de onde surgiu esse novo samba?

O presidente Getúlio Vargas começa a se inspirar nas idéias fascistas de poder e assim como Mussolini queria construir um Estado forte representado por sua imagem, dessa maneira, em 1937, Vargas institui que todos os sambas-enredos deveriam homenagear a história brasileira e que os instrumentos não nacionais (os de sopro) deveriam ser retirados das canções dando espaço aos batuques brasileiros. Assim nasceu o novo ritmo do samba e o carnaval disciplinado que hoje contagia a Sapucaí.

O carnaval surgido como festa pagã na Roma antiga ganhou tradição cristã na idade média e aqui no Brasil desbancou os sambas originais, recebeu as marchinhas e batuques, ganhou caráter nacionalista e conquistou toda a sociedade. O getulismo que organizou o carnaval antes comemorado nos simples entrudos também provocou a criação de um famoso personagem da Disney: assim que explodiu a Segunda Guerra Mundial os Estados Unidos da América buscaram maneiras de conquistar aliados e uma das maneiras de ganhar o brasileiro foi a criação de um típico personagem nacional, o Zé Carioca em 1942. Uma ótima estratégia não acha?! 

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Os "poréns" da escravidão brasileira

(Aquarela de Debret)


O jornalista Leandro Narloch em seu livro: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil causou espanto ao revelar certos detalhes da sociedade escravagista brasileira. O segundo capítulo da obra aborda este tema de uma forma pouco convencional e nunca revelada nos livros didáticos trazendo fatos inéditos que alteram a concepção tradicional que possuímos acerca do sujeito escravizado, por exemplo, o escritor aponta o fato de que:

A escravidão era comum no continente africano ao ponto de pessoas serem utilizadas como moeda em certas transições, praticadas inclusive pelos governos locais. Os escravos eram negros, mas também brancos prisioneiros, assim é possível afirmar que a prática da redução social ao nível escravo praticado em larga escala em nosso país foi aprendido pelos portugueses no solo africano, mas é necessário afirmar que os europeus deram a escravidão uma agressividade e amplitude até então desconhecidas.

Os negros escravizados no Brasil nem sempre eram tratados como meras mercadorias, muitos desfrutavam de relativa intimidade com seus proprietários vivendo sobre o mesmo teto e compartilhando as refeições, outros compravam sua liberdade e há casos onde a herança do patrão é concedida a um de seus escravos. Estes feitos demonstram que a relação não era baseada somente no chicote como aprendemos nos bancos escolares. Tanto que os próprios negros libertos compravam escravos para si.

Os quilombos nacionais não eram sociedades tão igualitárias e pacíficas quanto imaginamos. Existia uma relação social nessas habitações que de uma forma ou de outra abriga pessoas no comando ou fora dele, assim podemos falar numa hierarquia quilombola. O herói negro Zumbi dos Palmares vinha de uma família de guerreiros africanos e dominava a situação em seu agrupamento servindo de porta voz da população em negociações com a sociedade branca colonial. Cada um tinha sua função dentro do quilombo e uma vez que aderisse ao grupo não poderia mais sair, tentativas de fuga eram repreendidas e muitas vezes eram encerradas com derramamento de sangue.

O texto de Narloch realmente é impactante e revelador, por isso mesmo enfrenta diversas críticas no mundo acadêmico. Os historiadores tendem a criticá-lo pelo fato de ser um jornalista de profissão e não alguém relacionado ao mundo da pesquisa histórica. Mas o fato é que seu trabalho é bastante embasado cientificamente através de profissionais reconhecidos nesta área. O livro é claro e instigante compondo uma excelente leitura, desde que sejam tomadas precauções durante a interpretação textual para não suscitar radicalismos.

Para completar os apontamentos sugeridos por Narloch, sugiro uma reflexão sobre a suposta aceitação pacífica por parte dos escravos brasileiros no que se referia aos mal-tratos sofridos. Muitas novelas, filmes e documentários dão a entender ou sugerem que os negros aceitavam sua condição de escravidão sem resistir nem questionar. Qualquer levantamento de dados, por mais simples que seja, revela rapidamente que os negros usavam diversas estratégias de resistência, confira as mais comuns na vídeo-aula que segue: