segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

As mudanças no campo historiográfico

A crise do paradigma dominante proporcionou um grande avanço em todas as ciências, no caso da História não poderia ser diferente; a partir desta crise se estabelece uma reforma no campo historiográfico.

Primeiramente devemos frisar que paradigma se refere ao objeto e sua forma de estudo por uma dada comunidade cientifica. No caso histórico o paradigma predominante até meados das décadas de 60 e 70 era o Rankeneano, caracterizado pela neutralidade do historiador e exaltação dos grandes feitos e personagens políticos assim como o uso de fontes somente governamentais. É lógico que esta história era extremamente restrita e não é difício perceber que sua ampliação era uma necessidade emergente.

Surge na França uma contraproposta histórica na década de 80, a chamada Nova História Cultural. Essa NHC fica assim conhecida após a publicação em 1989 de um livro com este mesmo título, Nova História Cultural do escritor estadunidense Lynn Hunt que será responsável pela popularização deste termo e sua sigla correspondente. No Brasil essas idéias chegam na década de 90. Assim o conhecimento histórico será reelaborado a partir desta crise do paradigma dominante. Este é um momento muito importante porque ocorrerá uma série de mudanças no fazer história.

Os impactos de uma mudança justamente nas bases de estudo são grandes. Primeiramente se enfrenta as críticas e depois de conseguir freiá-las e se estabilizar é o momento de implementar mudanças radicais. A NHC modifica todo o processo de ensino de história pois agora fala-se em histórias. Passa a existir uma série de desdobramentos da disciplina, uma série de olhares, de sujeitos e de objetos. Surge uma multifacetação da história, ramos específicos para assuntos distintos dentro da boa e velha historiografia. Novas fontes de estudo são apresentadas como:

  1. A Micro-História: que reduz a escala de observação para entender o espaço do sujeito dentro de estruturas amplas, rompendo com generalizações e acentuando o indíviduo em sí. É interdisciplinar e parte das idéias marxistas. Descreve o comportamento humano diante dos sistemas reguladores;
  2. A História Vista de Baixo: tráz a massa como sujeito da História e não como mero espectador. Mostra as participações populares em grandes feitos, quebrando com a concepção de heróis responsáveis por seus feitos de forma solitária, desta forma o povo passa a ter uma identidade e se fortalece;
  3. A História Oral: possui um limite etário, mas é importante porque o próprio sujeito do contexto pode narrar o que aconteceu, imprimindo mais realidade nesta narrativa assim como suas emoções que tornam o fato mais complexo e real.
Estas são as principais revoluções trazidas para o campo da História que modificaram a forma de ver e transmitir os fatos. Atualmente o educador pode trabalhar com diversas visões sobre um mesmo acontecimento, isto amplia o conhecimento do aluno e lhe proporciona mais dados para raciocinar sobre até que ponto o que ele sabia era verdade ou estava sendo manipulado por algumas vozes. É importante salientar que a Nova História não pretende substituir o paradigma dominante, mas sim ampliar as verdades históricas a partir de reconsiderações e novos olhares sobre o já estudado.

Tanto a Teoria da História quanto a Historiografia são momentos que revolucionaram a visão do historiador em construção e culminaram na disciplina de História como a conhecemos atualmente. Cada uma delas trouxe constribuições diversas por serem geradas em tempos distintos e nos permitem conhecer os nomes que pensaram e colaboraram para a inserção e aceitação da História no campo científico. Desta forma considero muito importante que elas façam parte de nossa grade curricular, pois considero fundamental conhecermos as raízes do que estamos estudando e que mais futuramente estaremos ensinando. É crucial conhecer profundamente tudo o que se deseja fazer bem, na minha opinião.

As transformações no processo histórico durante os séculos XIX e XX

Em fins do século XIX e início do XX as sociedades européias sofrem mudanças drásticas que afetarão toda a concepção de mundo até então construída, inclusive as idéias que subsidiavam as produções históricas até aquele momento. É neste contexto de transformações estruturais ocorridas em toda a ordem social decorrente das inovações tecnológicas, que novos campos de estudos surgem como a psicanálise e a relatividade, a partir desta situação os estudiosos começam a questionar os métodos, finalidades e objetos de estudo tanto do campo historiográfico como das demais ciências sociais. A história positivista, por exemplo, não resiste a disseminação dos novos armamentos que irão aterrorizar o mundo ao se apresentarem durante a Primeira Grande Guerra. A sabedoria humana estava levando o homem a sua alta destruição, e o pior, em massa. Como manter uma história pautada no apoio as reinvindicações quando se chega a um nível insuportável de intolerância ao próximo?! A corrente marxista será menos agredida por considerar importante a escrita da história econômica, abrindo o leque de informações que era restrito aos documentos e figuras oficiais até então, assim o proletariado fará parte dos estudos pela primeira vez na história, uma caracteristica da historiografia em formação. O mundo se tornava mais ágil e era chegado o momento de mudar as concepções de homem, de sociedade e de escrita.

Através de uma iniciativa de Febre e Bloch no ano de 1929 é fundada a revista francesa Annales d'Historie économique et sociale, a grande revolução proposta por este trabalho era justamente abranger o campo de estudos competente a historiografia. Pretendiam saltar os limites da história política fazendo menção aos fatos sociais, através dos quais seria possível falar sobre os mais diferentes assuntos que compunham o contexto humano. Também trouxeram um olhar crítico do historiador que não pode negar sua influência sobre a construção de uma narrativa, assim além de observar e narrar também era necessário assumir sua intermediação sobre os fatos ali expostos. Estes autores farão diversas alterações nesta publicação pra melhor adequá-la a realidade vivida conforme o passar do tempo. Tanto que ainda hoje sobre mediações desde seu nome até a apresentação e metodologia utilizados.

O conceito de pós-modernidade surge exatamente destas mudanças de perspectivas ocorridas nos mais variados campos intelectuais. Logo a pós-modernidade seria um movimento intelectual com apogeu em algum ponto do século XX enquanto que a modernidade abrange as transformações referentes a Renascença e ao Iluminismo. O pós pode ser visto como uma reação ao modernismo e suas disparidades estão entre a forma como cada um percebe a maneira adequada de dirigir os movimentos intelectuais. Assim a pós modernidade irá trabalhar conceitos totalmente alheios a modernidade com a quebra de fronteiras, da rigidez das verdades, da divisão das ciências em campos distintos. Assim a pós irá trabalhar com o descontínuo, o caótico, o diverso, fatores estes considerados como irrelevantes durante a modernidade. Desta forma é possível perceber que modernidade e pós modernidade são conceitos totalmente antagonicos que convivem ainda hoje no meio social com alternação de opiniões em torno de si.

A Escravidão e o Preconceito Racial

A escravidão faz parte da história da humanidade, mas sem dúvida alguma sua versão mais intensa e cruel foi protagonizada no continente americano durante o contexto de exploração colonial.

Nosso país, devido sua extensão e riqueza natural, recebeu massas imensas de cativos africanos forçados a trabalhar exaustivamente nestas terras afim de enriquecer o outro lado do oceano, a Europa.

Durante décadas nossa historiografia representou essa permanência negra no Brasil como extremamente pacifica, onde essa multidão de homens, mulheres, crianças e idosos eram vistos como meros objetos de propriedade sujeitos a toda e qualquer imposição dos senhores brancos sem expressar qualquer forma de resistência ou indignação. Felizmente esta versão errônea foi superada, e atualmente já possuímos conhecimento das mais diversas formas de luta e busca por alternativas de uma vida melhor por parte da massa escravizada. Falta somente expandir esse cotidiano de luta nas classes escolares, que ainda são dominadas em grande maioria pelas idéias de um negro submisso.

Ser um escravo lhe lançava imediatamente a um mundo de repressões, castigos, exploração, submissão, solidão, torturas; comer, vestir e dormir conforme lhe era concedido. Era uma vida árdua que geralmente acarretava em morte em menos de sete anos de trabalho. Mesmo assim havia situações bastante distintas, um escravo urbano, por exemplo, gozava de um contexto muito mais ameno que um inserido nas plantações de cana de açúcar e cafezais. Possuía trabalhos menos exaustivos, jornada de trabalho um pouco mais curta, melhores condições de habitação e alimentação, maior liberdade de locomoção, de mudar de serviço, de senhor, podia até mesmo desenvolver um negócio próprio e angariar fundos pra comprar sua alforria durante suas horas de descanso. Os escravos também foram usados no sul do Brasil encarregados do pastoreio de gado onde a jornada de trabalho se estendia muitas vezes durante quase toda a noite. Mas de todos os empregos forçados em terras americanas nenhum era mais desgastante do que a exploração das minas que exigia jornada absurda com imersão em água, exposição ao sol, poucas roupas e posição curvada sobre constante vigilância.

As pressões externas, sobretudo a inglesa, levaram pouco a pouco ao fim do trafico negreiro e mais tarde da própria escravidão nas Américas. Mas isso foi um longo processo social onde as relações escravo/senhor foram se moldando lentamente conforme a situação exigia. No fim desse período o escravo já era tratado de forma significativamente mais humana, poupado de diversos serviços que colocariam sua vida em risco já que estava se tornando uma mercadoria cara e escassa. Durante o império a existência da Constituição afirmando igualdade e liberdade ia de encontro a permanência da exploração de mão de obra escrava e desta forma culminou no ato de Absolvição através das mãos da princesa Isabel como todos nós já conhecemos; um outro fato que foi trabalhado como um ato heróico próprio da solidariedade daquela alma, mas a historiografia mais uma vez estava equivocada, pois como sabemos a princesa simplesmente assinou um idéia pensada a décadas e que naquele contexto era algo inevitável para continuar as relações comerciais com o exterior por sermos um país agro-exportador e dependente das grandes nações da época.

O preconceito com o negro é um ato ridículo que prova o quanto ainda somos voltados a uma sociedade hierárquica, antiquada e elitista. Foi através dos braços destes imigrantes sofredores que nos constituímos como país, foram eles que trabalharam para desenvolver nossa sociedade, e são eles que até hoje sofrem uma exclusão social absurda. Temos muito o que crescer intelectualmente, não basta criar cotas de inclusão é preciso modificar a mentalidade fútil de nosso povo. Um preconceito sem razão, somos todos iguais e os negros possuem uma alma muito mais limpa do que a nossa, que durante séculos exploramos impiedosamente nosso semelhante somente por ambição financeira. Os negros são muito mais humanos do que os brancos, sofreram e sofrem muito até os dias de hoje devido nossa mania de menosprezar o diferente, mas nem por isso se sujeitaram a medidas agressivas e segregacionistas como nós o fizemos tantas vezes. São um povo de alma nobre, que sabem perdoar o próximo e lutam incansavelmente, e o mais importante: pacificamente, para ser reconhecidos perante a sociedade e obter o mínimo de dignidade para viver e criar seus filhos.

Como descendente dessa massa tão humilhada durante séculos, peço humildemente que você reflita sobre seus atos e ajude a criar uma opinião mais digna, mais solidária, e nos reconheçam finalmente como seus iguais e freiem esse preconceito racial tão desumano e injusto para com nós.

Atenciosamente: Janaina DA Silva.

O "Perigo Vermelho"

Discordar de Hobesbawn é uma grande responsabilidade, nós que estudamos História sabemos muito bem disso, mas mesmo assim, caso fosse a situação, eu não hesitaria em fazê-lo, porém neste caso eu concordo plenamente com suas palavras.
O interesse da URSS era bastante claro: ampliar, restabelecer e fortalecer seu território e fronteiras, logicamente outros continentes como o nosso, tão distante não lhe interessava naquele momento pós-segunda guerra mundial onde a prioridade era reconstruir os grandes danos causados pelo combate. Assim como relata Reichel em seu artigo:

A América Latina também não ocupava um lugar central no projeto de expansão mundial do domínio soviético. Estudiosos apontam que dificilmente a URSS teria condições ou até interesse de superar a hegemonia norte-americana no continente. Mesmo assim, era preocupante o crescente número de adeptos que o comunismo apresentava na conjuntura do pós-guerra. (REICHEL, 2004, p. 189 – 208).

O governo soviético se encontrava liderado de forma a garantir o desenvolvimento interno:

[...] Seguidor incondicional de Lênin, disputava com Trotsky o cargo deixado pelo líder da Revolução. Sua influencia política e sua hábil capacidade de formar alianças garantiu-lhe o comando do país. Havia sido nomeado pelo Comitê Central do PCUS em 1922, e apesar de sua admiração por Lênin, não agradava ao líder como seu sucessor.
O georgiano Ióssif Vissariónovich Djugashvíli fazia jus ao nome que havia adotado quando adulto: Josef Stalin (“homem de aço”, em russo). Assim que assumiu o poder, tratou de intensificar as perseguições políticas a adversários do regime, usando as forças da polícia do PC, que historicamente ficou conhecida como KGB, contra membros do próprio partido. (Revista: Ditaduras do Século XX, 2009, p. 22 –23).

A Guerra Fria foi ocasionada por divergências políticas protagonizadas pelos dois grandes blocos de influencia da época: Estados Unidos e União Soviética. Culpar somente um dos envolvidos por todo o ocorrido é um tanto arriscado, mas é importante salientar que a situação foi bastante forçada pelo governo americano, que usou de um intenso discurso ofensivo para garantir sua influencia sobre a América Latina. Na realidade podemos afirmar que uma dose de medo assombrou o estado norte-americano que adotou uma postura defensiva imediatamente, e para isso alarmou a população e desmereceu o regime comunista como forma de valorizar a sua própria ideologia.

Na disputa pela hegemonia mundial, os governos norte-americano e soviético passaram a defender ou a tentar conquistar áreas de influência. Através delas, aumentavam seu poder político e econômico, ao mesmo tempo em que evitavam o avanço inimigo.
A América Latina, que era uma tradicional área de domínio do imperialismo norte-americano, passou a ser encarada como uma importante aliada no combate ao comunismo. Apesar de não ocupar lugar privilegiado na política externa do país naquele momento, pois os interesses norte-americanos estavam mais voltados para a Europa e o Oriente, outra atitude não era considerada admissível, da parte dos governos latino-americanos, que não fosse a do alinhamento incondicional à política de contenção ao comunismo. (REICHEL, 2004, p. 189 – 208).

Dessa forma, com grande incentivo americano, foi se desenvolvendo esta grande tensão mundial que caracterizada pelo desenvolvimento de armas nucleares deixou o mundo num intenso estado de ressalva e apreensão.

No encontro que reuniu Stalin, Churchill e Harry Truman em Potsdam, no mês de julho de 1945, ficou claro que o ditador russo não se intimidava com o anúncio do presidente dos Estados Unidos de que seu país dispunha da bomba atômica. Na verdade, Stalin, através de seus serviços de espionagem, sabia da existência da armae a própria URSS também já dera início ao seu projeto nuclear. Anos depois, em 1949, os soviéticos testaram a bomba com sucesso.
Ao atacar com armas nucleares as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, no mês seguinte à Conferência de Potsdam, os norte-americanos mostraram, ao mundo, o nível em que ocorreriam os conflitos armados dali em diante e, aos soviéticos em especial, que não hesitariam em utilizar seu arsenal atômico nas oportunidades em que seus interesses estivessem sendo ameaçados. (REICHEL, 2004, p. 189 – 208).

Termino esta breve consideração acerca do tema Perigo Vermelho, forjado pela própria imprensa dos Estados Unidos da América, fixando minha opinião de que este último foi o grande responsável pela disseminação do terror ao longo período da Guerra Fria, devido sua ambição exacerbada e desenfreada que não cansa de expor nossos países como uma extensão de seu quintal e não mede esforços, passando por cima de cada um de nós, de uma maneira ou de outra, para alcançar seus objetivos futilmente capitalistas.